Nesta semana, alegrei-me ao receber um convite para festejar com amigos os 50 anos de feliz união. Este é um fato sociológico recente, ainda não possui explicação, e se tornou possível quando as pessoas passaram a viver mais.
No dia, lembrei um Congresso sobre Conjugalidade Longeva dos idos de 2001. Lá vimos o casamento com pelo menos 30 anos de vida conjunta e que venceu o tempo de (re) produção.
No evento, vi que o casal mais velho se sai melhor, por apresentar maior equanimidade de objetivo e de fonte de prazer, menos discórdia e tendência a ter padrão de saúde parecido. Também que, para ser feliz a dois, são fundamentais as virtudes: vontade, cuidado e ternura, elas revigoram a conjugalidade e afastam a mesmice, mas não se realizam apenas sob a égide do casal, porque a linguagem cultural deve facilitar o encontro na díade. Se até a pouco o casamento era uma relação de submissão, para a mulher, agora passa pela orientação da solidariedade, complementaridade e direitos iguais. Isso, pela delicadeza da questão de poder e sexualidade, torna-se outro paradigma que não o de crer que o amor pode tudo.
A virtude da vontade está no desejo de escolher mais uma vez como definitiva a parceria da díade, se tida como válida sua continuidade. É entender e assumir o valor da união e nela investir sem duvidar, buscando de todas as formas renovar o estilo de vida.
No cuidado está a disposição do casal e sua vivência na construção do saber o que fazer de suas vidas. Isso renova o diálogo, em especial na crise, exigi atitude preocupada, cuidadosa e responsável. As circunstâncias, queixas, convites, interditos das falas, olhares e outras revelações são as vias na construção do cuidado.
A ternura é a virtude mais específica para edificar o casamento bem-sucedido. Revela-se mais em gestos e atitudes do que em palavras, formando-se uma estética familiar criada pela harmonia de movimentos e interações. A ternura e sua expressão são patrimônio de todas as idades.
Também concorrem para um casamento longevo: dizer que ama, elogiar, não achar-se sempre certo, se alegrar com objetivos do outro, companheirismo, cumplicidade, superar o ninho vazio, e evitar sovinice.
O casal é o responsável pela sorte de sua união, mas as condições para um casamento longevo bem-sucedido não ocorrem isoladas. São imprescindíveis as ações garantidas pelas instituições, em particular a igreja, independente de confissão, pois ela é próxima da família e pode apoiá-la.
Caro leitor, se é que temos algum domínio sobre a vida, pergunto:
Será possível um casal longevo ter a sorte de se encantar ainda mais que já tenha se encantado?
Pode haver regra que diga qual o melhor caminho para ampliar o poder da ternura?
Ou será que somos guiados por deuses inconstantes que deixam a vida sem controle algum?